27ª Paragem 2017: Foi péssimo, mas com um final de sonho!

Epic Trail Azores

Tempo: 04:27:34
Distância: 41.34kms
Classificação Geral: 18º Classificado
Classificação Escalão: 18º Masculino

Para mim a fotografia da prova... É bom poder partilhar momentos com estes senhores do trail! Obrigado a ambos e à Naná, pela simpatia com que sempre recebe os caracóis!
Já o disse antes, a época de 2017 esteve muito longe do expectável... Não consegui cumprir grande parte dos objetivos pessoais a que me propus e no final da época restava um objetivo que poderia "salvar" a época: o Epic Trail Azores!
Nesta prova disputava-se a final da Taça Nacional de Trail onde se juntavam os melhores atletas dos campeonatos e das respetivas zonas... Consegui apurar-me em 3° lugar da Zona Centro e queria tentar fazer uma prestação semelhante aos treinos que vinha a fazer nos últimos dois meses e às provas que disputei durante o mês de Novembro. Durante a semana antes da prova as sensações de que algo importante estava para chegar iam aumentando: o nervosismo, a preocupação com a comida e com as "reservas de energia", com o descanso, tudo estava a ser apontado para o corpo estar ao máximo no dia da prova! 

Uma vez que a viagem se disputava nos Açores, tínhamos que apanhar o avião na sexta feira... Segui de Torres Novas com o Hugo e já em Lisboa completámos o trio masculino do Caracol com o Pedro Ribeiro que já estava no aeroporto! A ambição estava em alta, todos tínhamos esta prova como objetivo e o treino estava todo dirigido para esta data! No aeroporto também já estava o resto da comitiva que seguiria para os Açores... Um bocado na conversa e era hora de embarcar! Uma viagem que passou rápido a ver uma série e após um ligeiro atraso aterramos nos Açores.

Três elementos masculinos do Caracol Trail Team, prontos para embarcar
À chegada um elemento da organização fez a divisão dos atletas pelos alojamentos e seguimos para a zona de levantamento de dorsais, a Marina de Ponta Delgada. Levantámos os dorsais e fomos procurar um local para almoçar, até porque depois iria haver um briefing da prova e já que ali estávamos, ouvíamos as últimas indicações da organização... Para escolher o local do almoço, o Pedro teve uma ótima ideia, perguntar a alguém da terra onde almoçar. Perguntamos a um taxista e ele aconselha um restaurante "Aliança" que tinha uns bifes de vaca ótimos... Fomos lá, encontrámos dois dos senhores do Trail, o Armando Teixeira e o mestre Carlos Natividade com quem passamos um bom bocado a trocar umas ideias...  Optamos por um dos pratos do dia mas ficou a ideia de lá voltar no fim da prova para provar os tais bifes...

Almoço de equipa
Após o almoço regressamos à Marina para o briefing com o organizador da prova. O briefing era muito dirigido para os atletas dos 100kms, o que era compreensível, até porque os percursos das provas mais pequenas percorreriam parte da prova grande! Ouvimos alguns avisos, o mau tempo, as vacas, os cães, as vedações elétricas e o piso... Na minha opinião, e já tendo ouvido alguns briefings de provas, poderia ter havido uma descrição mais pormenorizada do evento! Penso que a maioria dos atletas estava como eu, era a primeira vez que corríamos nos Açores, e uma explicação mais demorada do percurso, dos pontos mais difíceis (tanto em inclinação como em progressão), dos locais que o gráfico não demonstra (poços de lama), da "logística" da prova a nível de abastecimentos e outros pormenores que se tornam importantes para quem vai fazer uma prova tão importante quanto esta! 
Foto antes do briefing, com o Hugo Água a apoiar no som
De qualquer maneira os avisos estavam dados e estava na hora de uma pequena tertúlia com o Armando Teixeira onde debatemos alguns pontos interessantes sobre o Trail Running... Os meus parabéns à organização pela ideia! No final já estava praticamente na hora de jantar. Mas antes ainda tínhamos que saber do alojamento... Ouvimos alguns relatos das condições habitacionais do pessoal que estava nas camaratas da AMEMO e não eram propriamente entusiasmantes: um local cheio de humidade (no teto e no chão), muito fraco isolamento, com um cheiro que não era propriamente agradável e onde toda a gente iria dormir em conjunto... Não é que todos estes pontos, isolados, sejam graves, mas se compararmos com as condições dos elementos que ficaram nos outros dois locais de alojamento, cria alguma desigualdade no momento "pré prova", um dos mais importantes! Em conversa com o Carlos Natividade soubemos que o local onde ele estava alojado tinha condições bastante aceitáveis e por um preço acessível... Eu e o Pedro acabámos por nem sequer ir ver as camaratas, fomos diretos para a residencial aconselhada pelo Natividade. O Hugo seguiu para as camaratas onde mais tarde se iria juntar a Joana, que vinha no voo da noite. A noite foi bastante tranquila, procurámos um local para jantar massa, a comida habitual pré prova e fomos para o quarto preparar todo o equipamento para a prova. 

O dia de sábado começou da melhor forma... A residencial disponibilizou-se a servir o pequeno almoço mais cedo do que o previsto e às 6:45 já estávamos na sala a iniciar a refeição. Aproveitei para repor o máximo de energias possível para os 42kms que se adivinhavam muito duros... Tudo pronto, estava na hora de seguir para o local onde iríamos apanhar a viatura até ao Pestana Hotel, em Água de Alto, local da partida da Taça Nacional de Trail, com hora de partida às 9h, 15min antes da partida da prova open! O ambiente estava verdadeiramente espetacular, a meteorologia estava a ajudar e já só faltava um pequeno aquecimento antes da partida... Pouco antes da 9h, recolhemos o localizador GPS que foi fornecido pela ATRP e fomos fazer o Controlo 0 para a prova. 

Linha de partida do Epic Trail Azores - ATRP
Com o brilhante trabalho de som do Hugo Água que ia animando todos os presentes rapidamente chegámos à hora da contagem decrescente e no final desta, seguimos para o "ataque aos Açores". 


A saída era feita por alcatrão, uma subida com alguma inclinação mas que permitia ritmos altos, até porque tínhamos acabado de começar... Apesar de ir na frente da corrida, fui sempre seguido por um grande pelotão de atletas! Após cerca de 1km viramos à direita para dentro de uma pequena povoação e fazemos uma pequena descida, em pedra com musgo, onde escorreguei à primeira passada. Foi um aviso inicial e fiz questão de "cravar" bem o pé no chão para não escorregar por ali abaixo... Perdi imediatamente a liderança da prova mas segui logo atrás. Entramos num trilho com algum sobe e desce acessível (mais sobe que desce) e volto para a frente da prova... 

Final da zona de sobe e desce
Sabia que a minha vantagem tinha que ser ganha fase da subida. Se o terreno estava tão pesado como diziam, as descidas iam ser muito difíceis, portanto tinha que aproveitar este troço da melhor maneira possível. Entretanto termina o sobe e desce e inicia a fase do sobe! E subia mesmo... É aqui que temos a primeira passagem por uma zona de pasto, onde a corrida fica praticamente impossível! É aqui que começo a perceber que os ritmos da frente iriam ser muito difíceis para mim. As pernas não estavam a permitir acompanhar aqueles ritmos e vou sendo ultrapassado por alguns atletas! Não era altura de desesperar, tinha que tentar minimizar perdas e fazer a "perseguição"... Fui mantendo este registo, fiz a zona da levada (única zona a direito da fase de "sobe") a ritmos elevados, atrás do Virgilio Gomes e quando voltámos à subida consegui arrancar forte! Consegui fazer a ligação ao Diogo Baena, que tinha passado na fase inicial da subida e tento seguir junto a ele... Mas tal como viria a ser a toada de toda a prova, quando estou mesmo a colar, aparece uma descida bastante inclinada e acabo por ser novamente apanhado pelo Virgilio, pelo Rodrigo Noivo e pelo Marcolino Veríssimo... Abro espaço para passarem e faço a minha descida! Embora muito inclinada, era curta e não perdi tempo quase nenhum! É aqui que passamos ao lado da Lago do Fogo, mas o nevoeiro que estava na regiões mais altas impossibilitava ver tudo o que fosse mais do 5 metros para cada um dos lados!  Assim que voltámos à subida, já estava novamente integrado no grupo e deixei-me ir no ritmo deles... Quando estamos sensivelmente a meio, começo a ouvir uma voz conhecida... Era o Romeu Gouveia, com o Bruno Silva que se tinham aproximado nesta última fase da subida! Trocamos umas palavras e numa fase em que me estava a sentir bem, volto a passar o grupo e a seguir para tentar perseguir os atletas que estavam à frente... Comigo acaba por vir o Bruno e o Romeu e formamos ali um mini grupo na chegada aos 12kms, ponto que marcava o fim da primeira e mais longa subida da prova! De seguida temos uma descida, que tinha tanto de inclinada como de escorregadia, ou melhor, era mais escorregadia ainda! Começo a descida mesmo a divertir-me, ia a pensar na juventude que estava ali naquele grupo e até comentei com eles mas de repente, vejo o Bruno Silva a escorregar e a cair diretamente num buraco e eu próprio também dou uma escorregadela maior do que o normal... Não tinha conseguido seguir perto da frente, como queria, também não era agora que ia meter em risco o que quer que fosse! Abrando o passo, volto a cravar os pés no chão com toda a força que tenho e quer o grupo onde ia, quer o grupo do Virgilio passam por mim e rapidamente me ganham distância! 

Só quando passamos esta zona do terreno e voltamos a correr num estradão com piso bastante acessível é que consigo meter os ritmos que gosto... Apanho o Romeu, conversamos um bocado, a seguir apanhamos o Bruno Coelho e acabo por seguir ligeiramente mais rápido que eles e ganhar alguma distância. É nesta fase que voltamos a entrar nas zonas de pasto, o que à primeira vista podia parecer mau! E era, mas a pior fase veio logo a seguir quando apanhamos cerca de 500mts de prova num lamaçal como nunca tinha visto... Era lama até ao joelho e mesmo que fizessemos como mandam as regras, de nos encostarmos aos cantos, onde dá para caminhar sem nos enterrarmos, íamos igualmente ao fundo! A progressão em corrida aqui é impossível, e a única preocupação era mesmo não ficar sem uma sapatilha... Lá consigo passar esta fase e sigo a minha prova! Volto a meter ritmos altos e faço a minha corrida até ao segundo abastecimento. Quando lá chego está o Virgilio a arrancar e o Diogo a acabar de abastecer... Tento ser o mais rápido possível, para apanhar esta boleia! Bebo um copo de água, meio powerade e sigo! Tento apanhar novamente quem está à frente, novamente por terrenos de pasto e tiro um flask para beber água e... Ups, com a pressa nem meti água nos flasks! Numa prova onde a humidade era mais que muita, era um erro que não podia ter cometido! Mas já não havia nada a fazer, tinha que aguardar mais 8kms até ao próximo abastecimento. E se um mal nunca vem só, é também aqui que os intestinos começam a pregar a sua partida... Desde o início do ano que não tinha problemas destes mas quando estava novamente a conseguir apanhar o grupo da frente, sou forçado a parar! Ninguém passou durante esse tempo, mas aquilo que estava quase a conseguir, estava neste momento mais de 2' à minha frente... Mas as desgraças ainda não tinham acabado! Normalmente aproveito a segunda metade da prova para dar o meu máximo, costuma ser a minha parte mais forte! Mas esta prova teve o condão de fazer tudo ao contrário... De meio da prova para a frente, parecia que o corpo se recusava a "ser apertado". Não sei se o homem da marreta estava atrás de alguma árvore mas a verdade é que não estava a conseguir gerir a prova como estou habituado! 

Fazemos nova subida, esta sempre em piso confortável e apesar de não seguir ao ritmo que pretendia, consegui não perder muito tempo... Chegamos ao topo, uma ventania que não se podia e um corte à direita para descer até ao alcatrão! 100mts de alcatrão, curva à esquerda e... Noite! Estava completamente de noite dentro daquele bosque, a pouca luz que existia fazia brilhar os refletores e foi assim que consegui habituar a vista à escuridão... O caminho aqui era todo feito através das passagens dos atletas anteriores e isso não podia ser bom sinal! É que aqui não me enterrava até ao joelho, mas parecia um atleta de ski, ou ginástica, ou ginástica em ski... Cada passada tinha como objetivo não escorregar, sendo que falhei redondamente ao longo de todo este troço! Duas quedas, mil escorregadelas, duas ultrapassagens e finalmente chego ao fim do trilho, local do penúltimo abastecimento da prova... A ajuda dos militares que estavam no abastecimento foi simplesmente espetacular, foi só dizer o que precisava e não precisei de me preocupar mais com isso! Comi qualquer coisa, voltei a meter os flasks na mochila e arranquei. As ultrapassagens tinham sido feitas mesmo no final do trilho e consegui colar logo a seguir ao abastecimento. Daqui até aos últimos 3kms o percurso era a descer ou a direito, ou seja, o terreno perfeito para conseguir aplicar alguma velocidade e tentar recuperar o tempo perdido! Mas não, as pernas definitivamente não queriam correr... De início ainda consegui ganhar algum terreno e fiquei isolado na frente desse trio mas quanto mais avançava mais percebia que não era o meu dia! Os 4'30''/km passaram a 5'/km... Os 5'/km passaram a 5'30'' e fui novamente ultrapassado por um dos atletas, um madeirense que estava a dormir no mesmo local que eu e o Pedro. Só queria chegar ao abastecimento para apanhar a tal última subida... Assim que lá cheguei nem parei, iniciei logo a subida e de início, até pelo ritmo que trazia daquela fase mais rápida, a subida estava a correr bem! A partir de meio voltei a sentir as pernas demasiado pesadas para conseguir correr... Tinha que gerir o que restava das forças até porque já se ouvia a voz do Hugo Água na meta! Finalmente cheguei ao topo e já só faltava a descida final que nos levaria diretos para as caldeiras, local da meta. Para quem viesse com caimbras aquela descida poderia ser muito dolorosa, muitos saltos, muitos degraus que exigiam muito dos músculos, mas como pelo menos nesse aspeto estava bem, acabei por fazer bem a descida e finalmente chegar às Caldeiras, junto à Lagoa das Furnas. 300mts para circundar as furnas e estava finalmente na linha da meta! Não foi de todo a prova que eu queria, criei algumas expectativas em relação ao que poderia fazer e quando chegou o dia da prova não as consegui cumprir! Como se diz na minha terra: "Treina que isso passa"! E é o que tentarei fazer, quero chegar a 2018 com todas as condições de cumprir os meus objetivos... Até porque se em 2017 não consegui cumprir com quase nada, isso não quer dizer que em 2018 não se volte a aumentar a fasquia! 

Felizmente que fui o único elemento da equipa a quem a prova não correu de feição... Um brilhante 5º lugar do Pedro Ribeiro e um igualmente brilhante 23º lugar do Hugo Neves permitia-nos começar a fazer contas a nível coletivo! Liguei ao meu pai no fim da prova e confirmava-se, o Caracol Trail Team, aquela equipa de amigos que funciona como que uma família, era campeã da Taça Nacional de Trail! Que orgulho em pertencer a esta família! É fantástico correr ao vosso lado! 

Foto do pódio coletivo, com o Caracol Trail Team no 1º Lugar
Em relação à organização... Senti que houve uma grande boa vontade por parte de toda a organização mas houve alguns pontos em que as coisas não estiveram propriamente perfeitas! Em primeiro lugar o percurso. Não creio que houvesse necessidade de estar a meter os atletas constantemente em poços de lama e no meio de terrenos de pasto! Eu que gosto de correr vi-me completamente frustrado em algumas zonas do percurso! Em segundo, os abastecimentos. O primeiro, ninguém da frente o viu... Podiam ter pelo menos uma placa a indicar que ele lá estava e os restantes embora não estivessem propriamente pobres, também não estavam completos! Na tertúlia antes da prova, o Armando falou que quase todas as provas de trail neste momento têm isotónico nos abastecimentos e a verdade é que na final da Taça Nacional de Trail, havia Powerade num dos abastecimentos e nada mais! Em terceiro, a sinalização... Não tem lógica os atletas terem que parar para ver onde está a próxima fita... Se o mau tempo é uma constante nesta altura do ano e se existe inclusivamente a possibilidade de as vacas comerem as fitas, existem soluções como bandeiras, ao longo do percurso que evitavam muitos dos problemas! Mas nem tudo são espinhos... Há que reconhecer que havia muita vontade de bem receber os atletas e que houve a preocupação de passar nos pontos emblemáticos da ilha! Os meus parabéns pela organização... É a errar que se melhora! A época de 2017 está assim terminada... Venha 2018! 

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